quarta-feira, 2 de março de 2022

Campanha da Fraternidade 2022

 



Fraternidade e Educação

 

“Fala com sabedoria, ensina com amor”
(Cf. Pr 31,26)

 

Educar é um ato eminentemente humano. Somos renovados quando aprendemos mais a respeito da vida e seu sentido, quando nos ensinam novos conhecimentos e quando, percebemos que em nós existe a profunda sede de aprender e ensinar.



Educar é também uma ação divina. A Bíblia nos mostra a história de um Deus que educa seu povo, caminhando com ele, compreendendo suas fragilidades, respeitando suas etapas e alertando diante dos erros. Quando contemplamos as ações e palavras de Jesus, encontramos um caminhar educativo. Sua presença atenciosa junto às pessoas, a relação entre os milagres e a conversão, o uso de exemplos recolhidos do cotidiano, tudo, enfim, nos apresenta Jesus como o grande educador.

É, pois, com essa certeza que a Campanha da Fraternidade de 2022 nos convida a refletir sobre a indispensável relação entre fraternidade e educação. Já tendo, por duas vezes, se debruçado sobre essa relação (1982 e 1998), a realidade de nossos dias fez com que o tema educação recebesse destaque, dentre os vários sugeridos, e fosse escolhido para mais uma Campanha da Fraternidade.

De fato, o mundo e nele o Brasil estão diante de um desafio: redescobrir caminhos para uma reconstrução que não é parcial, mas global; que não atinge somente alguns aspectos, mas que deve chegar às raízes do modo como pessoas e povos compreendem e organizam a totalidade da vida. O mundo de nosso tempo precisa encontrar caminhos para se reconstruir, ouvindo os clamores dos vulneráveis em uma casa comum cada vez mais vulnerabilizada. Por isso, pergunta-nos o Papa Francisco: "O que acontece quando não há a fraternidade conscientemente cultivada, quando não há uma vontade política de fraternidade, traduzida em uma educação para a fraternidade, o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo como valores?"

Trata-se, portanto, de uma Campanha da Fraternidade em forte linha de continuidade com os temas que nos vêm sendo propostos pelo menos desde 2018, quando éramos convidados a encontrar caminhos para a superação da violência. Esses caminhos passam por políticas públicas (CF 2019), fundados na ética do cuidado (CF 2020), em profunda atitude de diálogo (CFE 2021). Nada disso poderá, entretanto, ocorrer se não se considerar a importância da educação: educarmo-nos para o cuidado dialogal, nas relações interpessoais, e para o compromisso socioambiental; educarmo-nos para a redescoberta das motivações mais profundas ao próprio ato de educar.

Essa é a razão pela qual, em 2022, mais do que abordar um ou outro aspecto específico da problemática educacional, a Campanha da Fraternidade nos convoca a refletir sobre os fundamentos do ato de educar. Ao longo da caminhada quaresmal, em que a conversão se faz meta primeira, recebemos o convite para buscar os motivos de nossas escolhas em todas as ações e, por certo, naquelas que dizem respeito mais diretamente ao mundo da educação.

Essa opção não implica o distanciamento das questões mais concretas e urgentes no campo educacional. Há, de fato, inúmeros passos a serem dados, escolhas a serem feitas, com ratificação ou ajustamentos de rumo. Cada uma dessas concretizações, porém, exige o discernimento dos motivos pelos quais são realizadas, fazendo, assim, emergir uma Campanha da Fraternidade que nos leva a alargar o horizonte de nossa compreensão a respeito da educação, entendida não apenas como ato escolar, como transmissão de conteúdos ou preparação técnica para o mundo do trabalho. Estes, sem dúvida, são aspectos importantes, porém não os únicos. A Campanha da Fraternidade nos adverte que mais importante e urgente é a pergunta pelos motivos, pela abrangência e pelas metas de qualquer processo educativo.

No texto bíblico referência para a CF 2022, Jesus Cristo, o grande educador, está no templo. A ele foram levadas algumas mazelas do mundo: uma mulher flagrada em adultério, um adúltero que se esconde, ardilosos utilizadores da lei e pedras como instrumentos de morte. Jesus não se encontra em uma sala de aula ou em atitude que demonstre ensino convencional. No entanto, mostra que educar é contribuir para a superação do pecado, preservando a vida, atingindo as consciências e transformando relações.

Em face a tudo isso, a Campanha da Fraternidade nos recorda que educar não é um ato isolado. É encontro no qual todos são educadores e educandos. É tarefa da própria pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade. Afinal, como nos ensina o conhecido provérbio de origem africana, “é preciso uma aldeia para se educar uma criança”.

 

* Este é o texto de apresentação da CF 2022, extraído do Texto-base da campanha.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

“O meu reino não é deste mundo”

 



No próximo domingo, a Igreja comemora o Dia Nacional do Leigo e celebra a solenidade de Cristo Rei. A coincidência é bastante oportuna, pois, em nossos batizados, todos somos chamados a ser sacerdotes, profetas e rei. E Cristo Rei, é Rei de todos nós, que também somos chamados a sermos reis. Vamos refletir sobre o Reino de Deus e nossa tarefa neste reinado?

 

Na primeira leitura (Dn 7, 13-14), veremos que um “filho de homem” recebeu poder, glória e reino. E este reino jamais se dissolverá. No Salmo (93), reafirmaremos cantando que seu reino está inabalável. Na segunda leitura (Ap 1, 5-8), veremos que Jesus, além de nos libertar, fez de nós um reino de sacerdotes. Mas, como veremos no Evangelho (Jo 18, 33-37), não se trata de um reino deste mundo, onde os reis usam coroas, têm privilégios, exploram e oprimem seus “súditos”. O Reino do “Filho de Homem” é um reino de e da verdade, onde a exploração dá lugar à partilha, e a opressão dá lugar à fraternidade.

 

Nós cristãos (leigos e sacerdotes) não somos súditos, somos discípulos de Jesus. Como Ele, somos humanos, “Filhos de Homem”, chamados a sermos reis deste reino de e da verdade em todos os ambientes onde a gente vive. Em casa, no trabalho, na escola, na política e até na Igreja, que também precisa ser evangelizada.

 

A questão que nos é colocada é se somos verdadeiros discípulos de Jesus e realizamos nosso reinado como reis sem coroa, um reinado de partilha e fraternidade ou se optamos pela soltura de Barrabás e seu reino de violência e busca de poder, colocando em risco o “inabalável” Reino de Deus.

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Reflexão da liturgia de Cristo Rei / Dia Nacional do Leigo
(Dn 7, 13-14; Salmo 93 (92); Ap 1, 5-8; e Jo 18, 33-37)
21 de novembro de 2021
 

Por Paulo Flores (Lobinho), membro do Círculo Bíblico da Comunidade Eclesial de Base Cristo Rei. Paróquia Santuário São Judas Tadeu (Jabaquara), São Paulo-SP.

sábado, 29 de junho de 2019

𝐃𝐎 𝐌𝐄𝐈𝐎 𝐃𝐎𝐒 𝐏𝐎𝐁𝐑𝐄𝐒 𝐁𝐑𝐎𝐓𝐀𝐑Á 𝐀 𝐉𝐔𝐒𝐓𝐈Ç𝐀 𝐄 𝐀 𝐆𝐋Ó𝐑𝐈𝐀 𝐃𝐄 𝐃𝐄𝐔𝐒

                                                                                                                                    Paulo Flores*

O Evangelho deste sábado (Lc2,41-51) nos faz refletir sobre quando Jesus, aos 12 anos, foi com seus pais (Maria e José) a Jerusalém para celebração da Páscoa judaica. A história é bastante conhecida. Passado os dias da Páscoa, a família começou a viagem de volta para casa e, somente ao final do dia notaram a falta de Jesus. Tiveram que voltar a Jerusalém e, depois de três dias, encontram o menino no templo escutando e fazendo perguntas aos doutores da lei. A reflexão não é simples e permite diversas interpretações e ensinamentos.

Merecem atenção as palavras de Jesus (“Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?”). Elas mostram que toda a sua missão decorre da sua relação filial com o Pai. Isto significa que essa missão provém do próprio mistério de Deus e da realização de sua vontade entre os homens. Contudo, essa missão se processa dentro do mistério da Encarnação, onde Jesus vai aprendendo a viver a vida humana como qualquer outro homem.

Mas, é preciso muita atenção com a Primeira Leitura (Is61,9-11). Este trecho vem logo depois do citado por Jesus na sinagoga de Nazaré, quando Ele anunciou que era o Ungido de Deus e falou qual seria sua missão (Is61-1-3). Por isso, quem quiser fazer uma reflexão mais aprofundada, deve ler todo o capítulo 61 de Isaías, que vai do versículo 1 ao 11.

Assim, verá que o profeta é enviado para proclamar a Boa Notícia da libertação (vv. 1-3a) aos pobres (v. 1). São eles que estão abertos à fraternidade e à partilha.

Verá também que, para que a libertação se torne realidade, é preciso que, no país, triunfe a justiça nas relações entre os cidadãos, e que, entre os países, cessem as injustiças e opressões.

A condição para acabar com as opressões é abolir as explorações que existem dentro do país; para isso, é preciso reconstruir a cidade e reestruturar o campo, através de uma nova política agropecuária. Não basta estar na terra; é preciso possuí-la e, após sair da escravidão, é preciso caminhar para a libertação e dar-lhe consistência, restaurando o país dilapidado.

Os estrangeiros já não irão explorar, mas participarão da partilha, através do trabalho (vv. 4-5). Dessa maneira, o povo será sacerdote ou ministro de Deus (v. 6), isto é, será oficiante de um culto que agrada a Javé (cf. cap. 58).

Se há injustiças no país, exige-se conversão; se as injustiças vêm de fora, estas deverão ser enfrentadas. Para isso acontecer, direito e justiça são fundamentais (v. 8a) para que haja alegria (v. 7), fidelidade a Deus (Aliança, v. 8b), bênção e reconhecimento das nações (v. 9): é o ano da graça de Javé.

Ainda no versículo 9, o profeta deixa claro que os filhos de Deus não devem se isolar do mundo, mas se fixar no meio dos povos, que reconhecerão os fiéis por suas ações como abençoados de Deus.

Por fim, termina (v.11) com uma mensagem de esperança que nos lembra de que, assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações.

* Jornalista, membro do círculo bíblico da Comunidade Eclesial de Base Cristo, Paróquia Santuário São Judas Tadeu, do Jabaquara, em São Paulo.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Dai água a quem tem sede


O Santuário São Judas Tadeu está fazendo uma campanha de arrecadação para adquirir oito bebedouros de pressão/purificadores. O intuito é que os devotos possam saciar sua sede quando forem participar de alguma atividade no Santuário, que deixará de produzidos mais de 400 quilos de lixo ao ano, provenientes de copos descartáveis e galões de água.

Ajude o Santuário a acolher melhor a todos e a reduzir a produção de lixo! Sua contribuição precisa ser feita até o dia 28 junho, quando se encerra a campanha.

Para contribuir, basta acessar o link http://vaka.me/547631. Quem preferir efetuar sua doação de outra forma, basta enviar uma mensagem por WhatsApp para o número (11) 99204-8222 e informar que quer doar para a campanha "Santuário Sustentável”.

#somossantuariosaojudastadeu#

terça-feira, 11 de junho de 2019

Miquéias – O Direito Dos Pobres*


O profeta Miquéias nasceu em Morasti, uma vila no interior do reino de Judá. Sua origem camponesa se manifesta na linguagem concreta e franca, nas comparações breves e nos jogos de palavras. Ele exerceu sua atividade em fins do século VIII a.C., quando sua região estava sendo devastada pelos assírios.

Miquéias, entretanto, denuncia uma situação mais perversa do que a própria guerra em andamento: a cobiça e injustiças sociais, onde ele vê a causa principal da ira de Deus (2,8).

Após descrever os estragos da guerra (1,8-16), o profeta nos conduz à capital, onde ele se defronta com os ricos e com os dirigentes políticos e religiosos. Vindo da roça, Miquéias acusa-os de roubar casas e campos para se tornarem latifundiários (2,1-2) e os condena por mandar matar até mulheres e crianças para se apoderarem das terras (2,9).

Com o poder nas mãos, eles dançam ao ritmo do dinheiro, falseando o peso das mercadorias (6,10-12). Miquéias mostra que a riqueza deles se baseia na miséria de muitos e tem como alicerce a carne e o sangue do povo (7,1-4). Eles, porém, insistem, com a Bíblia na mão, em provar que são justos (2,6-7) e que Deus está com eles (3,11); procuram combinar religião com opressão aos fracos. Miquéias denuncia tal perversão como atitude idolátrica (1,5); por isso, é taxativo: eles, juntamente com a luxuosa capital e o próprio Templo, serão destruídos (3,9-12).

No livro atual de Miquéias existem também promessas e esperanças. Entre elas se destaca o anúncio do surgimento do Messias na pequena cidade de Belém (5,1-3). O Novo Testamento retomará esse oráculo e o atribuirá ao nascimento de Jesus Cristo (cf. Mt 2,6).

* Introdução ao livro de Miquéias. Bíblica Edição Pastoral.

domingo, 5 de maio de 2019

Igreja, povo da vida e pela vida


Pe. Cláudio Weber*

Corremos um sério risco de extremismos. Em tempo de crescente violência verbal e física, de muitos assaltos e assassinatos, de atentados e tragédias causadas pela incúria humana, a tentação é revidar com violência e pôr armas na mão do povo. Violência gera mais violência, agressão e morte. Nós somos o povo da vida e pela vida. A expressão é do Papa João Paulo II, em 1995, no doc. Evangelho da Vida n. 8.

Somos ou não o povo da vida? A finalidade desta pergunta é refletir sobre atitudes contrastantes de católicos que apoiam a pena de morte, o rearmamento da população, e que vibram com o bárbaro princípio de que “bandido bom é bandido morto”. Infelizmente, cada vez mais pessoas das próprias fileiras da comunhão eucarística exultam com a matança de assaltantes por policiais, como se a melhor folha de serviço destes servidores da ordem pública fosse um número mais elevado de mortes.

O que diz a vida de Jesus a respeito? Em Mt 5 Jesus diz que não veio para abolir a lei e os profetas, mas levá-los à perfeição. E cita explicitamente o 5º mandamento da Lei de Deus: não matar. Segue explicando que não basta abster-se da morte física, deixando claro que insultar, humilhar, caluniar, vingar-se - olho por olho, dente por dente - são também formas de matar. Em seguida, propõe o esforço de buscar a reconciliação, o perdão, rezar pelos inimigos, passar a amá-los, para que se convertam, se salvem, para que possam gerar frutos em benefício da sociedade.

Jesus não veio para condenar. Não permite que sejam eliminadas nem a figueira que não produz fruto (Lc 13,6-9), nem a mulher adúltera que a lei judaica condenava ao apedrejamento (Jo 8,11). À pecadora diz: “Vai e não peques mais”. Quanto à figueira, que simboliza todo ser humano, propõe que seja adubada - reeducada, fecundada pela Palavra da Vida - para que produza bons frutos.

Quanto teria perdido o cristianismo se Paulo que, por sua errônea visão ideológica, perseguia e prendia cristãos, tivesse sido ele próprio, preso e condenado?

Ao tomar conhecimento de manifestações de intensa e entusiástica vibração, da parte de membros da Igreja, pela morte de bandidos ou de mendigos e moradores de rua, ou mesmo de torcedores do time rival, só resta convidá-los a aderir ao Cristo que veio para que todos tenham vida. Cabe-nos colocar-nos ao lado de Jesus, que veio não para condenar, mas para salvar, veio não para quebrar a cana rachada nem apagar o pavio que fumega, até que se estabeleça o direito (cf Mt 12,13, citando Is 42,3).

Essa última expressão vem do contato que os judeus tiveram com a Babilônia no tempo do exílio. Nesse Reino, quando alguém era condenado à morte, um arauto do rei percorria a cidade com uma tocha sobre uma cana, anunciando a condenação. Se ninguém se manifestasse em defesa do condenado, o arauto deveria quebrar a cana e apagar o fogo, sinal de condenação irrevogável. Jesus, rosto da misericórdia de Deus, assume o sentido daquela expressão, porque não quer condenar ninguém, mas dar-lhe o direito e a oportunidade de mudar de vida. Nem sequer quebra a cana já rachada, nem apaga o resto da brasa do pavio que apenas fumega. Não quer a condenação irrevogável de nenhum ser humano.

Essa atitude a favor da vida é assumida pela Igreja em inumeráveis documentos oficiais, como Evangelium Vitae de João Paulo II: A todos os membros da Igreja, povo da vida e pela vida, dirijo o mais premente convite para que juntos, possamos dar novos sinais de esperança a este nosso mundo, esforçando-nos para que cresçam a justiça e a solidariedade e se afirme uma nova cultura da vida humana, para a edificação de uma autêntica civilização da verdade e do amor(nº 8).

Na mesma direção vai o Papa Francisco, ao mandar acrescentar uma nota ao Catecismo da Igreja Católica n. 2267, sobre a pena de morte: Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa, e se compromete com determinação para sua abolição no mundo todo”.

Portanto, não mais a morte, nem os assassinatos de cidadãos comuns, de policiais, de pessoas inocentes, nem de criminosos; nem aplausos e festejos pela eliminação de pessoas, pois toda figueira pode ser adubada para gerar bons frutos. Afinal, somos ou não o povo da vida, que se lança com Cristo em favor de um mundo em que se possa viver bem e gerar melhores condições de vida para todos?
 

* Padre da congregação do Sagrado Coração de Jesus (SCJ). Vigário paroquial do Santuário São Judas Tadeu e responsável pelo acompanhamento da Comunidade Cristo Rei. Este artigo foi originalmente publicado no Jornal São Judas, edição 461, de maio de 2019.

quarta-feira, 6 de março de 2019

CF2019: Fraternidade e Políticas Públicas


“Jesus veio para a Galileia, proclamando a Boa-Nova de Deus. ‘Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está aproximo. Convertei-vos e crede na Boa-Nova’” (Mc 1,14.15). O Reino da verdade, da graça, da justiça, do amor e da paz! O Reino que liberta, pois nos oferece a graça da filiação divina, da fraternidade em Cristo Jesus.

Os exercícios quaresmais que a Igreja propõe aos católicos 'são: jejum, esmola e oração. São os exercícios físico-espirituais para se deixar tomar pelo seguimento de Jesus Cristo.

Jejum: esvaziamento, expropriação, concentração, libertação! Tudo para que sejamos um só em Cristo (Gl 3,28), e Cristo seja formado em nós (Gl 4,19). O jejum é receptividade da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Despertar em nós a fome de Deus e a disponibi1idad de saciar a fome dos irmãos e irmãs.

Esmola: partilha, misericórdia, cuidado, entrega! Vida evangélica partilhada! O amor e a misericórdia saem ao encontro do outro Esmola e dinâmica do amor de Deus saída! A esmola nasce da alegria de ter encontrado o tesouro escondido, a pérola preciosa (Mt13,44-46).

Oração: a escuta e a meditação despertam para a oração. A escuta e a meditação se fazem palavra, prece, oração. Oração como necessidade do coração de transformar em palavras as manifestações amorosas de Deus.

Jejum, esmola e oração despertam para a sensibilidade do tempo que está sempre por se completar e repleto de Deus. Movimento de mudança, de transformação para atingir a plenitude da vida em Cristo. Os exercícios quaresmais como caminho do direito e da justiça.

A Quaresma nos provoca e convoca à conversão, mudança de vida: cultivar o caminho do seguimento de Jesus Cristo. Ela desperta a necessidade de partilha e nos aproxima da irmandade.

Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação paterna de Deus. Fraternidade e Políticas Públicas é o tema da Campanha para a Quaresma em 2019. O profeta Isaías inspira o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is1,27).

A Campanha da Fraternidade 2019 tem como objetivo geral: “Estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade”. Políticas Públicas são as ações discutidas, aprovadas e programadas para que todos os cidadãos possam ter vida digna. São soluções específicas para necessidades e problemas da sociedade. É a ação do Estado que busca garantir a segurança, a ordem, o bem-estar, a dignidade, por meio de ações baseadas no direito e na justiça.

Política pública não é somente a ação do governo, mas também a relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais ou coletivos, envolvidos na solução de determinados problemas. Para isso, devem ser utilizados princípios, critérios e procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas que garantam ao povo os direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em outras leis.

A Campanha da Fraternidade acontece no ano em que o Papa Francisco proclamou o mês de outubro como Mês Missionário Extraordinário. O Santo Padre, ao instituir o Mês Missionário Extraordinário, ofereceu como tema: “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. Os batizados em sua missão no mundo participando da construção de Políticas Públicas que construam a fraternidade.

Maria, mãe do Príncipe da Paz, nos acompanhe no caminho de conversão quaresmal! Jesus Cristo crucificado-ressuscitado, que transformou todas as coisas, nos ajude no caminho da superação da violência, pois somos todos irmãos.


Trecho do texto de Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário-Geral da CNBB, na apresentação da Campanha da Fraternidade 2019